Dei espaço
ao meu amor
fez-se do meu circo
o palhaço
roubou minhas lonas
e cansou.

Cessou do apanhado
de conchas
a sereia:
e firmando-se na veia
pode ser em vão, maré.

Nem uma gota
na boca
mas no ar
cada partícula
que entrava
era um coma
alcoólico.

Meu penar
penando
depenou-se.

A sanidade é uma coisa que
pontinho pontinho pontinho e vácuo.
As betoneiras: sopa de legumes
e os estômagos mendigos acimentados.

Ainda me questionam
interrompem
quantas sombras
são a tua?

Falsa, crua
nua de sanidade
rica em variedade
de ser:
e nunca expor-se
ao ver.

E eu que me carregue
de mim, sendo sempre
o que não fui.

Pitanga, a vaca.

Cavalos
nos campos
lá vamos
cantamos
foram-se
as gramas
sobraram
nas entranhas
pútridas
de morte
da Pitanga
uma jersey
miúda
corcunda
quanto leite
dá pra gente?
Nenhuma vida
permanece
mas rende
o leite
que faz queijo
que faz queixa
da criança
que sujou
de branco
o bigode:
não mo deixa
envelhecer
Pitanga
pintada
minha vaquinha
de estimação:
não coube no caixão
mas no coração tamanho
não importa, não.
Repete
tua vida
na que restou
na que te tirou
repondo
transpondo
teu eterno
úbere.
Todo dia agora
anda parecendo
um pós domingo
que eu nunca vivi.

As petúnias
acordaram cantando
os pássaros planando
os amores vivendo
e os mais calmos
correndo.

Poema
é o que
murmura
na contramão
do rio.
E na cara dura
se faz santo
se faz pó
quando não tem
leite
nem água
pra dissolver:
tudo seco
mas aqui dentro
arco-íris traz dilúvio.

Começou leve
pouco
reto
mas no deserto
não tem frescor
pra transpor
esse tom
musical.
http://www.youtube.com/watch?v=IH8ezcSpjbk
"Antes de chover
eu vejo você brotar
e assim, florescer.

Annezita, princesita
tu vem clarear.
Annezita, princesita.
Entre as flores...
suas cores
vêm bailar."
Me pus a escrever um poema pagão
sem falta, sem orçamento
pensava que queria o ritmo
batendo aos pés, dando movimento:
em dia de temporal
o malandro me saiu correndo!
Tristeza maior de quem tá lendo
sentir-se assim, meio perdido
feito anjo querubim enfeitando porta de inferno.

Perdeu-se a rima
avessou-se o avesso
e o meu amor desconexo
prostrou-se de tal maneira que...
(ah!)
parecia a velha serena
sentada ao túmulo do falecido
contando pétalas de margarida:
bem-me-quer, não-pode-mais-querer.
E assim fica o meu dizer:
não te percas se és impotente sozinho
que a solidão é sempre um espinho
pr'aquele que dorme em forro de papelão!

A dor pungente virou pingente
no pescoço da moça esbranquiçada
que sentiu-se incomodada pelo olhar do pescador
o doer quase sempre hipnotiza
feito a tristeza posta à frente do poeta
tantas as profissões e a linha certa
é que entortando é que se vai.

Vestiu-se de vestido a menininha
que tinha os dedos vermelhos de amora
manchou de sangue e, sem demora
espalhou a culpa pelas frutinhas!
E há que a culpa é sempre inocente...
gerou o caos entre os doentes
partiu e gelou os dentes
olhou de canto e foi-se embora:
sem direção, pegou o bonde
ergueu as malas, só pra desfazer
rupturas ao bom prazer
de ter-se sempre por contente.

O fato é aquele meu poema
o tal fugitivo, fora da lei
ainda, ao menos, eu me avisei:
movimento é bom enquanto está parado.
Mas quando sai entreverado
e já se confunde até o cheiro
fica o fogo no isqueiro
e a brasa queimando amarga
lá, no fundo do canteiro
onde o coração do poeta não se arrisca
ainda enquanto o velho pensamento rebusca
enchendo de baús a casa
até inverter os papéis guardáveis.

Não me termino por aqui
agitem-se os acomodados!
Saí foi pra comprar mais dados
no tal do jogo de vida
aonde o céu faísca faceiro
e que se o tiro é certeiro
nem carteiro agoniado
serve pra errar a mira.
Frase gase
tempo contratempo
figura fulgura
tinta pinta
todo fim rimado
mas o conteúdo

jogado
pra não dizer
que não falou
do ser
rimando com o que
se quer:
o menino foi
beber leite
mas era quiboa.

Quiboa a torta, mãe
mas me deixa sair
me deixa dançar
eu quero correr
pra que me prender?
Não entendo
essa cadeira com rodas
não tem diversão
tudo fica longe da mão...
A Maria é tão bonita
mãe
tem fita no cabelo
e a pele
ah, a pele que eu nunca toquei
é macia feito nuvem
que me diminui tanto.

Confundiu cravo com jasmim
a tua boca com carmim
ai de mim
que não me contive:
fui descer o rio
o rio não teve fim
mas eu?
Fiquei assim:
viro sereia de dia
monstro do lago à noite
e quando sobra tempo
garimpo pra me sustentar.

Fui fazer um haikai:
caí.

Susto na ferroviária!
Sus
pirou
Susana foi levada
o piro ficou:
eterno é sempre
o que não acontece
quando acaba.

Tempo
transtempo
espaço-tempo
antetempo
sendo tempo
tudo vale:
teu silêncio
num segundo
pondo os minutos
a esperar
pela eternidade.
Destempo.
Des-ejo
teu Tejo
não tem bacia.
Domingo:
do
mingo
minguante
minguar
minguaremos
do último quarto à conjunção.

Fragmento

Ainda me questionam
interrompem
quantas sombras
são a tua?

Falsa, crua
nua de sanidade
rica em variedade
de ser:
e nunca expor-se
ao ver.

E eu que me carregue
de mim, sendo sempre
o que não fui.
Dei espaço
ao meu amor
fez-se do meu circo
o palhaço
roubou minhas lonas
e cansou.

Cessou do apanhado
de conchas
a sereia:
e firmando-se na veia
pode ser em vão, maré.

Nem uma gota
na boca
mas no ar
cada partícula
que entrava
era um coma
alcoólico.

Meu penar
penando
depenou-se.

A sanidade é uma coisa que
pontinho pontinho pontinho e vácuo.
As betoneiras: sopa de legumes
e os estômagos mendigos acimentados.

Se Bin Laden estivesse no Brasil

"1. Jamais seria morto;
2. Caso fosse preso, os advogados dele teriam que estar presentes na hora da prisão para garantir seus direitos;
3. Todas as escutas seriam consideradas ilegais por não terem autorização de um juiz;
4. Os policiais e militares seriam acusados de "abuso do poder";
5. Em três dias teria um "Habeas Corpus" decretado por irregularidade nas investigações;
6. Por ser réu primário, não possuir outra condenação, ter nível superior e endereço fixo, seria logo posto em liberdade;
7. Por possuir "livre direito de ir e vir" seria libertado para visitas à Meca;
8. Pelo direito de "ampla defesa" alocaria milhares de testemunhas a seu favor;
9. O processo levaria uma década com ele em "liberdade provisória";
10. Condenado a pena máxima de 35 anos, cumpriria 1/6 como manda a lei;
11. Durante o cumprimento da pena de cerca de cinco anos, poderia receber visitas das suas cinco esposas e seria liberado nos feriados, inclusive no Natal(!);
12. Depois de alguns meses preso, um Juiz decretaria que a prisão dele é ilegal por não constar Terrorismo no nosso Código Penal.
13. E por último, para não manchar a imagem do Brasil junto ao mundo, ele sofreria a terrível punição de doar 10 cestas básicas para as Obras Assistenciais de Irmã Dulce."