Céus, eu te amo tanto que morreria. É um amor assim, meio bandido, meio leite, meio mar, meio areia, meio o novelo de lã do gato persa da tia Antônia que perdeu o sono às quintas da vida. Amo-te o cheiro que nunca senti e a pele suave que nunca vi suar. Amo em ti até o vício por cigarros, veja bem!
Ocorre-me agora que esta é a primeira vez que lhe escrevo assim, como se não me houvesse outra saída... tenho pressa agora, uma pressa que me faz ecoar pela máquina de escrever como num daqueles ginásios enormes em que se grita: olá! e chega uma resposta, de si mesmo. É a solidão rebatida, como uma bola de baseball. Mas o que grito e ecoa não é um oi e o que me responde não é o vazio... sinto tua alma em cada canto, em cada eco, em cada grito, em cada batida infernal de letra... não brigues com a tua amada, meu guri. Tenho uma raiva imensa do que sou quando te magoo, não sou eu, eu que tanto te ama. É o monstro que habita as profundidades de meu ser e faz de mim algo digno de pena. Não te magoes, viu. Amo-te as coisas da vida, e se há algo na vida, foi porque me deste a tua mão para eu segurar. Mesmo que estejas longe, sigo contigo o caminho, pois não há em mim qualquer mínima dúvida sobre em que terras pisar: quero ao lado de meus pés, sempre, os teus. Um do lado do outro, descartando qualquer chance de solidão. Quero-te tanto bem que acabo fazendo o contrário... acabo-me sendo algo cruel e desprovido de paciência. Não leva-me o lado ruim a sério, leva somente o bom, que te pertence, que é teu, por direito e por amor. Dou-te a minha palavra, a de quem ama, ama perdida e unicamente, de que não há no mundo outro caminho. Somos nós, no mesmo, no nosso, somente e tão belo, nosso. Não abandona-me ao pé da laranjeira, que um dia ela se cansa e começa a jogar em mim as folhas daquela época tão linda que só é linda se vens comigo. Vem, vem, tu, meu amado, vem, vem que eu sou tua única na vida e és para mim, tudo. És tudo, não me canso de ter-te como tudo. Não te canses de mim, que mais logo ali deve haver um riacho para lavar as tuas feridas, que amores não são apenas lírios, mas se seguirmos juntos, os arbustos hão de abrir caminho.