Poeto ao Escritor.

Teu infindo ar de sexta-feira
que tanto abala minhas semanas
teus pés bailando no ar
do teatro do anoitecer
e nas curvas vou me perder
e nas suas, quiçá.
Se és meu refúgio
o comum refúgio da morte envaidecida
que busca por um pulmão
um mar e um coração.

E na rima de três aves
vou-me tocando de ti
e toca-me tu
se és tão raro assim!
E no perfume da rosa
toda pomposa embalo-me a cantar
me ouças sem parar
se quiseres ainda viver
- dança, menino, canta, pequeno! -
que és grande e me tomas conta
e não vejo mais desregras
para a nossa solidão.

Fale, diga que vens às vinte e quatro horas
que o dia tem
e o sonho vem contigo!
Não jogo-te do alto
para não perder-te em água
mas jogo-me no além de ti
e formo o nós que o mundo teme
e na dança contrária
dos ponteiros dos relógios
dos mundos e des-mundos
amo-te, enfim...
batendo, vivendo, assim!

De ti, tua liberdade
de mim, toda a saudade
em segundos de ausência
e és toda a minha poesia
se é que há tal ato em mim.
Tal fogo ou olfato
tato, visão, paladar
és todo sentido e sentir
então não te tiras de mim
que a ti, pertenço-me eu.

De mim, para o Dan.